quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Metade

Que a força do medo que tenho
 não me impeça de ver o que anseio. 
Que a morte de tudo que eu acredito
não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio.
Que a musica que eu ouço
 ao longo seja linda, ainda, que triste. 
Que a mulher que eu amo
seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida
 e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
 não sejam ouvidas como prece
nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, 
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me coroe por dentro
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso 
e a outra metade é vulcão.
Que o medo da solidão se afaste,
que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto
 o doce sorriso que eu me lembro
de ter dado na infância.
Porque metade de mim
é a lembrança do que eu fui, 
a outra metade eu não sei...
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
 para me aquietar o espírito.
E que o teu silencio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, 
ma a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba,
e que ninguém a tente complicar
 porque é preciso simplicidade para faze-la florescer.
Porque metade de mim é platéia
e a outra metade, a canção. 
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é Amor 
e a outra metade também!

Oswaldo Montenegro

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